domingo, 24 de maio de 2009

Distúrbio respiratório no TDAH é comum e pode passar despercebido.

Criança com TDAH respira mal quando dorme.
O TDAH ou Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é caracterizado por uma gama de problemas relacionados à falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses problemas são causados por alterações no desenvolvimento de algumas áreas cerebrais que funcionam mais lentamente, causando dificuldades à criança em sua vida diária. O TDAH é um distúrbio biopsicossocial, ou seja, é fortemente influenciado por fatores genéticos, biológicos, sociais e vivenciais, que contribuem para a intensidade dos problemas experimentados. Foi comprovado que o TDAH atinge 3% a 10% da população ao longo da vida. O diagnóstico precoce e tratamento adequado podem reduzir drasticamente os conflitos sociais, familiares, escolares, comportamentais e psicológicos vividos por essas crianças e seus familiares. Estudos mostram que através de um diagnóstico e tratamento corretos, um grande número dos problemas como repetência escolar, abandono dos estudos, depressão, distúrbios de comportamento, problemas vocacionais e de relacionamento, bem como abuso de drogas, pode ser adequadamente tratado ou até mesmo evitado.
Sabemos que a presença outras patologias são a regra no curso do TDAH e não a exceção. Por isso devemos ficar atentos à problemas auditivos, visuais, transtornos de aprendizagem, distúrbios da coordenação motora, transtornos psiquiátricos diversos entre outros. Problemas dos sono estão presentes em percentual razoável nessas crianças, sendo comum a sonolência excessiva durante a tarde. Por isso, é fundamental a investigação sobre dos distúrbios obstrutivos respiratórios do sono em crianças com TDAH, uma vez que o problema dificulta as crianças de prestarem atenção e aprenderem o conteúdo das disciplinas escolares como os outros alunos. Alem disso, elas ficam agitadas ou às vezes apáticas, por conta do problema respiratório.O uso da telerradiografia em norma lateral como auxiliar no diagnóstico dos Distúrbios Obstrutivos Respiratórios do Sono em Crianças com TDAH foi desenvolvido pela Unicamp – SP e realizado em crianças com distúrbios de aprendizagem. Quando respiramos com dificuldade, a respiração alterada leva ao que chamamos de dessaturação, ou seja, prejuízo da oxigenação em áreas do cérebro como a área pré-frontal, que é a área mais comprometida no TDAH, agravando ainda mais o quadro.
Como a criança não dorme bem, pode prejudicar a atenção, a conduta e o aprendizado. Por isso é importante a família e os professores terem informações sobre esse assunto e ficarem atentos aos alunos.
Especialistas em TDAH precisam fazer uma triagem da parte respiratória em toda criança diagnosticada como tal. Se elas apresentam o problema, é importante diagnosticar se elas têm também os Distúrbios Obstrutivos Respiratórios do Sono, ou os dois. Avaliação odontológica é fundamental também, pois a criança pode ter atresia dos maxilares, o que acaba fragmentando a passagem do ar pelas vias aéreas e diminuindo o espaço de passagem do ar. Temos sempre que perguntar se a criança dorme bem, se ela ronca e se respira pelo nariz. Crianças que dormem de barriga para cima ficam com a ponta da língua baixa e não no céu da boca e podem ficar com a via aérea muito reduzida, até mesmo fechar em direção da garganta. a adenóide, as amígdalas e os maxilares. Importante também a avaliação da úvula, amígdalas e adenóides, além de desvio de septo.
Não é normal a criança roncar, falar à noite, ter refluxo gastroesofágico, ranger os dentes (bruxismo), transpiração da cabeça e do tórax (excessiva), enurese noturna (fazer xixi na cama até 7 ou 8 anos) e movimento das pernas inquietas durante o sono, ou agitar as pernas e mãos durante o dia. Também podem apresentar problemas como a rinite alérgica crônica e amigdalites que atrapalham muito a respiração. Como a criança não consegue respirar de forma eficiente, ela tem um sono agitado e essa reação que ela apresenta é o corpo se movimentando devido a dificuldade da respiração. A criança pode ainda ter pesadelos e acordar gritando. A identificação desses distúrbios do sono pode ser percebida logo ao nascer pelos pais, melhor verificada pelos pediatras. Os pais muitas vezes percebem as agitações do sono, mas não as relacionam com fatores que podem aumentar a hiperatividade, prejudicar a atenção e o aprendizado nas crianças com TDAH. Também devem ser investigados os fatores como congestionamento nasal, apinhamento dental, palato ogival, lábios entreabertos, inflamação clínica das tonsilas palatinas, úvula (campainha) alongada e mau hálito.
O TDAH, para ser adequadamente tratado necessita, como vemos, de uma avaliação clínica detalhada por profissional capacitado neste tipo de atendimento.

sábado, 23 de maio de 2009

UMA REVOLUÇÃO NA MEDICINA: A MEDICINA PERSONALIZADA

Exame genético determina dose de Medicamento para cada paciente.
Instituto da USP desenvolve 1.º teste do tipo no País; medida reduz efeito adverso e melhora eficácia do tratamento
O novo exame poderá aumentar a eficácia e reduzir os efeitos colaterais de tratamentos com psicofármacos, analgésicos, remédios para cardiopatias, câncer, epilepsia e outras doenças. O Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP)desenvolveu um exame genético que ajuda a determinar a dose certa de medicamento para cada paciente. A velocidade com que o organismo processa ou elimina uma droga varia de pessoa para pessoa. A diferença explica porque a mesma quantidade de remédio causa efeitos adversos em alguns indivíduos e pode ser ineficaz para outros. O novo teste mostra a resposta do organismo de cada paciente a uma variedade de medicamentos – psicofármacos, analgésicos, remédios contra cardiopatias, câncer – e viabiliza oajuste personalizado da prescrição. O exame avalia os genes responsáveis pela produção de duas enzimas do fígado: a CYP2D6 e a CYP2C19. Elas atuam no metabolismo de 75%dos medicamentos. Tais genes não são iguais em todas as pessoas. Apresentam formas diferentes, conhecidas como alelos. Os pesquisadores do IPq identificam quais alelosestão presentes no genoma de cada paciente.Há uma associação direta entre o alelo encontrado e a resposta ao remédio.“A pesquisa começou com uma paciente que não melhorava com nada”, recorda Wagner Gattaz, presidente do conselho do IPq e diretor do Laboratório de Neurociências, responsável pelo exame. Aos 10 anos, Talita (nome fictício) apresentou um quadro de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Durante sete anos, passou por sete consultórios diferentes e experimentou vários remédios. Nenhum funcionou. A família cogitou viajar aos Estados Unidos em busca de um tratamento eficaz. Dr. Gattaz sabia da existência de um exame para medir a ação das duas enzimas nos Estados Unidos, mas enviar o material seria sempre uma alternativa cara e demorada. Resolveu desenvolver teste semelhante no Laboratório de Neurociências que dirige. A coordenadora de genética do laboratório, Elida Benquique Ojopi, conduziu as pesquisas. Quando o exame ficou pronto, foi aplicado em Talita. Descobriu que ela é “metabolizadora ultrarrápida”: seu organismo elimina o remédio antes de ele exercer o efeito terapêutico. Hoje Talita toma uma dose 6 vezesmaior do que a usual sem ter efeito colateral. Há três anos não apresenta sinal da doença.“Minha filha está na faculdade, tem vida normal e muitos amigos”, conta a mãe de Talita. “Eu nunca prescreveria uma dose seis vezes maior sem o novo exame”, diz Gattaz.“Seria muito arriscado.” O metabolismo de vários antidepressivos, por exemplo, depende das duas enzimas. Estima-se que a dosagem em 25% das prescrições receberia ajustesdepois do exame genético. NO BRASIL Elida conta que médicos têm encaminhado pacientes para realizar o exame no instituto. Cerca de 250 pessoas utilizaram o serviço. Até agora, a ocorrência de alelos que não demandam correção na dosagem foi igual para os dois genes: cerca de 62% dos pacientes analisados. “Exames como esse representam o início de uma nova fase no tratamento das pessoas – a medicina personalizada”, afirma odiretor do Laboratório de Neurociências. Ele considera provável que,em um futuro próximo,as informações obtidas no teste sobre as duas enzimas farão parte do registro clínico de qualquer paciente, como hoje ocorre com outras informações como o tipo de sangue.Nos Estados Unidos, três empresas realizam o exame, que custa, em média, R$ 1.900. OIPq cobra cerca de R$ 500 pelo teste, que não recebe cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS). “O dinheiro é reinvestido em pesquisas do instituto”, aponta Gattaz.