segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

TERAPIA DE GRUPO GRATUITA PARA ADULTOS COM TDAH E OU TRANSTORNO BIPOLAR


Apesar de serem condições cientificamente validadas no mundo inteiro, o TDAH ou transtorno de deficit de atenção e hiperatividade ainda é muito pouco conhecido e consequentemente, pouco diagnosticado e adequadamente tratado. Adultos com TDAH em sua forma pura tem os sintomas de desatenção e impulsividade melhorados com o metilfenidato (Ritalina, Ritalina LA e o Concerta). O problema é que em cerca de 70% dos casos, o TDAH apresenta comorbidades, ou seja, outros transtornos psiquiátricos que aparecem junto com o TDAH e agravam o problema e dificultam o tratamento. De igual modo, as famílias precisam ser tratadas também, pois elas geralmente não entendem e não aceitam o transtorno como uma doença a ser tratada e muitos familiares insistem em achar que é molecagem, que já virou vício, que é pirraça, falta de vontade, preguiça ou porque o portador só quer mesmo é uma mansa e "viver na sombra e água fresca"...O número de desavenças conjugais auemnta muito, muitos pais saem de casa, passam a morar em outro bairro ou cidade próxima ou alguns somem de vez... por não aguentarem uma carga tão grande de conflitos e culpas. A família muito frequentemente se desestrutura, os conjuges culpam o outro conjuge, que revida em contra-partida... Quando as crianças vao ficando adolescentes e adultos jovens, o estrago na vida daquela familia pode ser total. A comparação é inevitável, e a autoestima daquele jovem fica realmente destroçada. Muitos pais acabam por optar que o filho more sozinho, tamanho o sofrimento que reina na família. No caso do transtorno bipolar, doença grave, séria e que pode cursar com fases depressivas e de euforia, o caso é mais sério ainda. E o TDAH e o Transtorno Bipolar podem cursar ao mesmo tempo, inclusive como comorbidade. Sob alguns pontos, os dois problemas se parecem muito. Na tentativa de ajudar portadores e familiares desses dois transtornos, uma psicoterapia de grupo para homens, adultos, com tdah ou transtorno bipolar, de 19 a 40 anos, foi aberto em vila isabel, no Rio deJaneiro. É coordenado pela Dra Evelyn Vinocur e a psicóloga Rita Tavares e é realizado semanalmente. Em paralelo, as famílias desses pacientes são acompanhadas pelas profissionais. O trabalho em grupo traz benefícios impressionantes, um "up-grade" ao tratamento, tanto como a terapia com os familiares se torna imprescindível. É como se o psiquiatra, o paciente e a família estivessem todos em um barco e todos tivessem que remar. Se a força de cada um não ficar em sintonia com a dos demais, o barco nao vai navegar satisfatoriamente, pode até ficar andando em círculos. Por isso, a Dra Evelyn Vinocur está bastante esperançosa com os resultados desse primeiro grupo. Ela espera que o retorno seja bem gratificante. É importante ressaltar que o grupo precisa ser homogeneo e que o perfil de cada participante seja parecido com os dos outros, para que o trabalho renda melhor. A terapia é a cognitivo comportamental e vamos procurar focar nos problemas que mais ocorrem nesses transtornos. Alguns pontos a serem trabalhados serão o Treino de Habilidades Sociais, Resolução de problemas, Leitura com foco mais prolongado, Assertividade, Auto-Motivação, Resiliência, planejamento de metas e como manejar melhor o tempo. O atual grupo é fechado e tem 5 participantes. Duração em torno de 4 meses.

Mais detalhes? podem postar nos comentários, que eu explico mais detalhes e os critérios de seleção para novos grupos.

XX CONGRESSO DA ABENEPI SOBRE INFANCIA E ADOLESCENCIA


10 a 13 de junho de 2009 - Campinas - SP


Em Junho deste ano a ABENEPI realizará seu XX Congresso Nacional. Por isso deixamos disponível abaixo os links do website da ABENEPI e também do website especial preparado para o Congresso. Caso não escolha nenhum dos links, em alguns segundos você será redicecionado automaticamente para o website do Congresso.Agradecemos sua visita.Participe de nossos eventos.História da Associação, notícias, novos associados, cadastros de profiissionais,links, boletim informativo, endereço das sedes e contatos.Tudo sobre os preparativos para o XX Congresso Nacional da ABENEPI. Ficha de Inscrição. Envio de trabalhos e informações sobre os temários e sobre os palestrantres.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Como lidar com a bipolaridade em criança?


No passado, o transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníaco-depressiva, uma doença psiquiátrica caracterizada por alternância de fases de depressão e de hiperexcitabilidade. Nesta fase, a pessoa apresenta modificações na forma de pensar, agir e sentir e vive num ritmo acelerado, assumindo comportamentos extravagantes como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente. Sabe-se que os transtornos bipolares estão associados a algumas alterações funcionais do cérebro que possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação e recompensas. É o caso do lobo pré-frontal e da amígdala, uma estrutura central que possibilita o reconhecimento das expressões fisionômicas e das tonalidades da voz. Junto dela, está o hipocampo que é de vital importância para a memória. A proximidade dessas duas áreas explica por que não se perdem as lembranças de grande conteúdo emocional. Por isso, jamais nos esquecemos de acontecimentos que marcaram nossas vidas, como o dia do casamento, do nascimento dos filhos ou do lugar onde estávamos quando o Brasil ganhou o campeonato mundial de futebol.Outro componente envolvido com os transtornos bipolares é a produção de serotonina no tronco-cerebral (o cérebro arcaico), uma substância imprescindível para o funcionamento harmonioso do cérebro.

(Entrevista com Prof Valentim Gentil, do site do Dr Dráuzio Varella)

Transtorno Bipolar na Infância


Mais crianças são tratadas para Transtorno Bipolar do Humor

Por Benedict Carey

Publicado em 03 de Setembro de 2007

Na revista: The New York Times

Até onde o diagnóstico de Transtorno do Humor Bipolar em crianças e adolescentes pode ou não refletir a realidade dos fatos? O artigo traz à luz, pontos importantes e polêmicos sobre a questão.

Pesquisas mostram como aumentou o número de atendimentos a crianças e adolescentes americanos por serem portadores de Desordens Bipolares num período de dez anos, ou seja, de 1994 a 2003. Na verdade, a Psiquiatria está passando por várias reformulações e grandes avanços, principalmente no caso específico da Psiquiatria infantil, onde os estudos e trabalhos de campo e de pesquisa têm sido ainda maiores, com o advento das neurociências e estudos em neuroimagem e genética molecular. Mas o fato é que a polêmica em torno do aumento dos diagnósticos em Psiquiatria tem trazido calorosos debates. Hipóteses as mais variadas têm sido levantadas, como a de que médicos estariam fazendo diagnósticos e tratamentos de modo mais agressivo ou porque o número de novos casos de Transtorno do Humor Bipolar em crianças está aumentando. Ou ainda por conta de um possível superdiagnóstico, ou seja, toda criança atendida que fosse agressiva ou explosiva, já sairia da consulta diagnosticada e tratada como bipolar o que levaria ao surgimento de outras polêmicas, uma vez que o custo de um tratamento para Transtorno do Humor Bipolar pode ser de três a cinco vezes mais caro do que o de outras doenças, como Ansiedade ou Depressão. Ainda mais que tais tratamentos, além de poderem não corresponder aos benefícios esperados, podem gerar efeitos colaterais adversos sérios como o ganho de peso. Motivo real não sabemos, mas verdade é que a magnitude da situação tem dado vez a calorosos debates em torno da questão. Transtorno do Humor Bipolar se caracteriza por alterações intensas do humor e até há pouco tempo se achava que a condição só afetava a adultez, “poupando” os pequenos. Transtorno do Humor Bipolar se caracteriza por alterações intensas do humor e até há pouco tempo se achava que a condição só afetava a adultez, “poupando” os pequenos. Pensando sob outro ângulo, alguns Psiquiatras dizem que o Transtorno Bipolar é um problema muito freqüentemente não diagnosticado em crianças e que tal fato merece reflexão e estudo, na medida em que os médicos, conhecendo mais o transtorno, estariam beneficiando aquelas crianças e adolescentes portadoras do transtorno. Dr. John March, chefe de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade de Duke, acha que a situação reflete uma imaturidade nessa área dos transtornos bipolares em crianças. Segundo ele, ainda não há meios de se fazer um diagnóstico com acurácia em crianças pequenas, do ponto de vista do desenvolvimento. Diz também que a maioria das pesquisas mostra que crianças qualificadas para o diagnóstico não apresentariam os sintomas clássicos do transtorno como o estado de mania, ao contrário, tornar-se-iam crianças deprimidas. Dr. Mani Pavuluri, diretor do programa de transtornos do humor da Universidade de Illinois, Chicago, fala que o “rótulo” do Transtorno do Humor Bipolar geralmente é melhor do que qualquer outro diagnóstico que normalmente é feito, para crianças difíceis, ou seja, para aquelas que apresentam ódio, raiva extrema e incontinência afetiva e do humor, emoções insuportáveis para essas crianças, e que era bom que finalmente esses sintomas estavam sendo reconhecidos como parte de uma doença única. Pesquisadores de Nova York, Maryland e Madri analisaram dados de pesquisa do Centro Nacional para estudos epidemiológicos em Saúde com foco em médicos particulares e estimaram um aumento do diagnóstico de Transtorno Bipolar do Humor da ordem de 780 mil, no mesmo período de 1994 a 2003. Dr. Mark Olfson, pesquisador em Saúde Mental da Universidade de Columbia há anos e chefe da atual pesquisa, revelou que foi o aumento mais surpreendente em pesquisa, em período curto de tempo. Ele diz que tal resultado fez o Transtorno do Humor Bipolar mais comum entre crianças do que a depressão. O estudo achou que psiquiatras fizeram quase 90% dos diagnósticos e que 2/3 das crianças eram meninos. Cerca de metade dos pacientes apresentava outras dificuldades mentais, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O tratamento quase sempre incluía medicamentos. Metade deles receberam drogas como a risperidona ou a quetiapina, ambos aprovados para o tratamento da esquizofrenia. E que 1/3 recebeu o estabilizador de humor chamado Depakote. E que psicoestimulantes e antidepressivos também eram usados. A maioria das crianças recebiam combinação de duas ou mais drogas e que cerca de quatro em dez crianças recebiam psicoterapia. O estudo achou que a metodologia usou recursos similares ao do tratamento do Transtorno Bipolar do Humor em adultos.
Especialistas disseram que o aumento dos diagnósticos de Transtorno do Humor Bipolar em crianças e adolescentes reflete vários fatores. Estudos recentes sugerem que sintomas bipolares de fato aparecem mais precocemente na vida de adolescentes e crianças pequenas que desenvolvem os sintomas plenos da doença em idades mais tardias. E que o diagnóstico de Transtorno do Humor Bipolar na Infância e Adolescência dão aos psiquiatras e aos familiares desesperados um tratamento para as chamadas “tempestades afetivas”, verdadeiras “crises de fúria”. Os psiquiatras têm sido encorajados a pensar e pesquisar o Transtorno do Humor Bipolar e várias drogas já estão aprovadas no tratamento em adultos. A risperidona foi aprovada pelo FDA para o tratamento do Transtorno do Humor Bipolar na Infância e Adolescência em agosto de 2007. Não só o Transtorno do Humor Bipolar, mas também o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e outros transtornos geram controvérsias, com admiradores e opositores. É o caso da Dra. Gabrielle Carlson, da Universidade Stony Brook em Long Island. Ela diz que todos estão “inundados” com divulgações maciças de Laboratórios de remédios dizendo que os médicos não estão diagnosticando o Transtorno Bipolar do Humor e outras coisas. Alguns pais de crianças diagnosticadas como portadoras de Transtorno do Humor Bipolar dizem que o “rótulo” levou a tratamentos efetivos, com o tempo. “Foi uma benção para nós” pois meu filho de 15 anos tendia a explosões de raiva até tomar lítio e risperidona por muito tempo. Agora ele toma só o lítio e é um ótimo estudante. Evidentemente, outras declarações não foram tão otimistas assim. Fato é que ainda temos muito caminho pela frente no que tange ao total entendimento de um transtorno tão grave e tão sério quanto o Transtorno Bipolar do Humor, tanto em crianças, adolescentes e adultos.

Transtorno Bipolar - aumento do número de casos diagnosticados

Transtorno Bipolar - aumenta o número de casos diagnosticados

The New York Times

por Benedict Carey

The number of American children and adolescents treated for bipolar disorder increased 40-fold from 1994 to 2003, researchers are to report on Tuesday, in the most comprehensive study to look at the controversial diagnosis. And experts say the numbers have almost certainly risen further in the years since.
Most experts believe the jump reflects the fact that doctors are more aggressively applying the diagnosis to children, not that the number of new cases has gone up. But the magnitude of the increase is surprising to many experts, who say it is likely to intensify a debate over the validity of the diagnosis that has shaken the field of child psychiatry in recent years.
Bipolar disorder is characterized by extreme mood swings and, until relatively recently, it was thought to emerge only in adulthood. Some psychiatrists say that the disorder is too often missed in children, and that increased awareness — reflected in the increasing use of the diagnosis — is now allowing youngsters who suffer from it to get the treatment they need. But others argue that bipolar disorder is overdiagnosed. The term, they say, has become a diagnosis du jour, a catch-all now applied to almost any explosive, aggressive child. Once children are labeled, these experts add, they are treated with powerful psychiatric drugs that have few proven benefits in children and potentially serious side-effects, like rapid weight gain.
The spread of the diagnosis has been a boon to drug makers, according to these experts, because treatment typically includes medications that can be three to five times more expensive than those prescribed for other disorders, like depression or anxiety.
“I think the increase shows that the field is maturing when it comes to recognizing pediatric bipolar disorder, but the tremendous controversy reflects the fact that we haven’t matured enough,” said Dr. John March, chief of child and adolescent psychiatry at Duke University’s school of medicine, who was not involved in the research.
“From a developmental point of view, we simply don’t know how accurately we can diagnose bipolar disorder, or whether those diagnosed at age 5 or 6 or 7 will grow up to be adults with the illness,” he said. “The label may or may not reflect reality.”
Most children who qualify for the diagnosis do not go on to develop the classic features of adult bipolar disorder, like mania, researchers have found. They are far more likely to become depressed.
But Dr. Mani Pavuluri, director of the pediatric mood disorders program at the University of Illinois, Chicago, said that label is often better than any of the other diagnoses that difficult children often receive. “These are kids that have rage, anger, bubbling emotions that are just intolerable for them, and it is good that this is finally being recognized as part of a single disorder,” to better tailor treatment, she said.
In the study, researchers from New York, Maryland and Madrid analyzed data from a National Center for Health Statistics survey of office visits, which focused on doctors in private or group practices. The researchers calculated the number of visits in which doctors recorded a diagnosis of bipolar disorder, and found that the numbers went up from roughly 20,000 such diagnoses in 1994 to about 800,000 in 2003
“I have been studying trends in mental health services for some time, and this finding really stands out as one of the most striking increases in this short a time,” said Dr. Mark Olfson of the New York State Psychiatric Institute at Columbia University, the senior author of the study, which appears in the September issue of Archives of General Psychiatry, which is to be published Tuesday.
The increase makes bipolar disorder more common among children than clincial depression, the authors said. The study found that psychiatrists made almost 90 percent of the diagnoses, and that two-thirds of the young patients were boys. About half the patients also had been identified as having other mental difficulties, most often attention-deficit disorder.
The treatment given the children almost always included medication. About half received antipsychotic drugs, like Risperdal from Janssen or Seroquel from Astrazeneca, both developed to treat schizophrenia; a third were prescribed so-called mood stabilizers, most often the epilepsy drug Depakote; and antidepressants and stimulants were also common. Most children were on some combination of two or more drugs, and about four in 10 received some psychotherapy.
Their regimens were very similar to those of a group of adults with bipolar diagnoses, the study found. “You get the sense looking at the data that doctors are generalizing from the adult literature and applying the same principles to children,” Dr. Olfson said.
The rise in bipolar diagnoses in children reflects several factors, experts say. Bipolar symptoms do appear earlier in life than previously thought, in teenagers and young children who later develop the full-blown disorder, recent studies suggest. The label also gives doctors and desperate parents a quick way to try to manage children’s rages and outbursts, in an era when long-term psychotherapy and hospital care are less accessible, they say.
In addition, in recent years drug makers and company-sponsored psychiatrists have been encouraging doctors look for the disorder, ever since several drugs were approved to treat the disorder in adults. Last month the Food and Drug Administration approved one of these medications, Risperdal, to treat bipolar in children — which many experts say they expect will escalate the use of Risperdal and similar drugs in young people.
“We are just inundated with stuff from drug companies, publications, throwaways, that tell us six ways from Sunday that, ‘Omigod, we’re missing bipolar,’ ” said Dr. Gabrielle Carlson, a professor of psychiatry and pediatrics at Stony Brook University School of Medicine on Long Island. “And if you’re a parent with a difficult child, you go online, and there’s a Web site for bipolar, and you think, ‘Thank God I’ve found a diagnosis. I’ve found a home.’ ”
Some parents whose children have received the diagnosis say that, with time, the label led to effective treatment. "It’s been a godsend for us," said Kelly Simons, of Montrose, Colo., whose son Brit, 15, was prone to angry outbursts until given a combination of lithium, a mood-stabilizer and Risperdal several years ago. He is now on lithium alone and he is an honor-roll student.
Others say their children have suffered from side effects of drugs given for bipolar disorder, without getting much benefit.
Ashley Ocampo, 40, of Tallahassee, Fla., the mother of an 8-year-old boy, Nicholas Ryan, who is being treated for bipolar disorder, said that he had tried several antipsychotic drugs and mood stabilizers, and that he had been better lately.
But, she said in an interview, “He has gained weight, to the point where we were struggling find clothes for him; he’s had tremors, and still has some fine motor problems that he’s getting therapy for.”
She added, “But he’s a fabulous kid, and I think, I hope, that we’re close to finding the right combination of medications to help him.”

(minha tradução):
Mais crianças são tratadas para Transtorno Bipolar do Humor
Por Benedict Carey
Publicado em 03 de Setembro de 2007
Na revista:
The New York Times
Até onde o diagnóstico de Transtorno do Humor Bipolar em crianças e adolescentes pode ou não refletir a realidade dos fatos? O artigo traz à luz, pontos importantes e polêmicos sobre a questão.
Pesquisas mostram como aumentou o número de atendimentos a crianças e adolescentes americanos por serem portadores de Desordens Bipolares num período de dez anos, ou seja, de 1994 a 2003. Na verdade, a Psiquiatria está passando por várias reformulações e grandes avanços, principalmente no caso específico da Psiquiatria infantil, onde os estudos e trabalhos de campo e de pesquisa têm sido ainda maiores, com o advento das neurociências e estudos em neuroimagem e genética molecular. Mas o fato é que a polêmica em torno do aumento dos diagnósticos em Psiquiatria tem trazido calorosos debates.
Hipóteses as mais variadas têm sido levantadas, como a de que médicos estariam fazendo diagnósticos e tratamentos de modo mais agressivo ou porque o número de novos casos de Transtorno do Humor Bipolar em crianças está aumentando. Ou ainda por conta de um possível superdiagnóstico, ou seja, toda criança atendida que fosse agressiva ou explosiva, já sairia da consulta diagnosticada e tratada como bipolar o que levaria ao surgimento de outras polêmicas, uma vez que o custo de um tratamento para Transtorno do Humor Bipolar pode ser de três a cinco vezes mais caro do que o de outras doenças, como Ansiedade ou Depressão. Ainda mais que tais tratamentos, além de poderem não corresponder aos benefícios esperados, podem gerar efeitos colaterais adversos sérios como o ganho de peso. Motivo real não sabemos, mas verdade é que a magnitude da situação tem dado vez a calorosos debates em torno da questão.
Transtorno do Humor Bipolar se caracteriza por alterações intensas do humor e até há pouco tempo se achava que a condição só afetava a adultez, “poupando” os pequenos.
Transtorno do Humor Bipolar se caracteriza por alterações intensas do humor e até há pouco tempo se achava que a condição só afetava a adultez, “poupando” os pequenos.
Pensando sob outro ângulo, alguns Psiquiatras dizem que o Transtorno Bipolar é um problema muito freqüentemente não diagnosticado em crianças e que tal fato merece reflexão e estudo, na medida em que os médicos, conhecendo mais o transtorno, estariam beneficiando aquelas crianças e adolescentes portadoras do transtorno.
Dr. John March, chefe de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade de Duke, acha que a situação reflete uma imaturidade nessa área dos transtornos bipolares em crianças. Segundo ele, ainda não há meios de se fazer um diagnóstico com acurácia em crianças pequenas, do ponto de vista do desenvolvimento. Diz também que a maioria das pesquisas mostra que crianças qualificadas para o diagnóstico não apresentariam os sintomas clássicos do transtorno como o estado de mania, ao contrário, tornar-se-iam crianças deprimidas.
Dr. Mani Pavuluri, diretor do programa de transtornos do humor da Universidade de Illinois, Chicago, fala que o “rótulo” do Transtorno do Humor Bipolar geralmente é melhor do que qualquer outro diagnóstico que normalmente é feito, para crianças difíceis, ou seja, para aquelas que apresentam ódio, raiva extrema e incontinência afetiva e do humor, emoções insuportáveis para essas crianças, e que era bom que finalmente esses sintomas estavam sendo reconhecidos como parte de uma doença única.
Pesquisadores de Nova York, Maryland e Madri analisaram dados de pesquisa do Centro Nacional para estudos epidemiológicos em Saúde com foco em médicos particulares e estimaram um aumento do diagnóstico de Transtorno Bipolar do Humor da ordem de 780 mil, no mesmo período de 1994 a 2003.
Dr. Mark Olfson, pesquisador em Saúde Mental da Universidade de Columbia há anos e chefe da atual pesquisa, revelou que foi o aumento mais surpreendente em pesquisa, em período curto de tempo. Ele diz que tal resultado fez o Transtorno do Humor Bipolar mais comum entre crianças do que a depressão. O estudo achou que psiquiatras fizeram quase 90% dos diagnósticos e que 2/3 das crianças eram meninos. Cerca de metade dos pacientes apresentava outras dificuldades mentais, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O tratamento quase sempre incluía medicamentos. Metade deles receberam drogas como a risperidona ou a quetiapina, ambos aprovados para o tratamento da esquizofrenia. E que 1/3 recebeu o estabilizador de humor chamado Depakote. E que psicoestimulantes e antidepressivos também eram usados. A maioria das crianças recebiam combinação de duas ou mais drogas e que cerca de quatro em dez crianças recebiam psicoterapia. O estudo achou que a metodologia usou recursos similares ao do tratamento do Transtorno Bipolar do Humor em adultos.
Especialistas disseram que o aumento dos diagnósticos de Transtorno do Humor Bipolar em crianças e adolescentes reflete vários fatores. Estudos recentes sugerem que sintomas bipolares de fato aparecem mais precocemente na vida de adolescentes e crianças pequenas que desenvolvem os sintomas plenos da doença em idades mais tardias. E que o diagnóstico de Transtorno do Humor Bipolar na Infância e Adolescência dão aos psiquiatras e aos familiares desesperados um tratamento para as chamadas “tempestades afetivas”, verdadeiras “crises de fúria”.
Os psiquiatras têm sido encorajados a pensar e pesquisar o Transtorno do Humor Bipolar e várias drogas já estão aprovadas no tratamento em adultos. A risperidona foi aprovada pelo FDA para o tratamento do Transtorno do Humor Bipolar na Infância e Adolescência em agosto de 2007.
Não só o Transtorno do Humor Bipolar, mas também o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e outros transtornos geram controvérsias, com admiradores e opositores. É o caso da Dra. Gabrielle Carlson, da Universidade Stony Brook em Long Island. Ela diz que todos estão “inundados” com divulgações maciças de Laboratórios de remédios dizendo que os médicos não estão diagnosticando o Transtorno Bipolar do Humor e outras coisas.
Alguns pais de crianças diagnosticadas como portadoras de Transtorno do Humor Bipolar dizem que o “rótulo” levou a tratamentos efetivos, com o tempo. “Foi uma benção para nós” pois meu filho de 15 anos tendia a explosões de raiva até tomar lítio e risperidona por muito tempo. Agora ele toma só o lítio e é um ótimo estudante. Evidentemente, outras declarações não foram tão otimistas assim.
Fato é que ainda temos muito caminho pela frente no que tange ao total entendimento de um transtorno tão grave e tão sério quanto o Transtorno Bipolar do Humor, tanto em crianças, adolescentes e adultos.